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Ronnie James Dio em dose tripla

Se estivesse vivo, Ronnie James Dio teria completado 77 anos no Ășltimo dia 10 de julho. O baixinho endiabrado, uma das maiores vozes que o heavy metal jĂĄ teve, frontman do Black Sabbath e do Rainbow, e com uma carreira solo recheada de clĂĄssicos, imortalizou o sĂ­mbolo mais difundido no mundo da mĂșsica, os chifrinhos do diabo que todo rockeiro (e atĂ© os nem tĂŁo rockeiros assim) jĂĄ fez ao menos uma vez na vida. Mas, ao contrĂĄrio do que muita gente pensa e propaga, de que esse sĂ­mbolo seria algo satĂąnico, Dio fazia o gesto na verdade para espantar mau olhado, como ele viria a dizer no documentĂĄrio "Metal: a headbanger's journey", fazendo referĂȘncia a sua avĂł italiana que realizava o gesto, tambĂ©m chamado de maloik.

No mĂȘs de aniversĂĄrio deste Ă­dolo do rock, falarei dos trĂȘs shows que tive o privilĂ©gio de assistir. Isso mesmo, Dio em dose tripla! Um dos artistas que eu mais assisti ao vivo, juntamente com o Iron Maiden e o Nightwish

Pra começar, devo dizer que, por muitos anos, a fase do Black Sabbath que eu mais curtia era justamente a com o Dio, porque na verdade eu não conhecia muito bem a fase com Ozzy, como eu explico nessa resenha aqui. Então, o baixinho fazia parte da minha trilha sonora quase que diariamente, tanto com o Heaven and Hell, um dos melhores ålbuns de metal dos anos 80, quanto com o Holy Diver e cia, da excelente carreira solo de Dio. E foi bem na época em que eu estava bastante viciada no Heaven and Hell que pude conferir o americano pela primeira vez ao vivo.

Era 4 de abril de 2001, no clĂĄssico Metropolitan (que nessa Ă©poca jĂĄ recebia a alcunha da mantenedora, o ATL Hall), no Rio de Janeiro, logo no inĂ­cio da minha "carreira" de rata de shows. Dio, entretanto, jĂĄ tinha vindo ao Brasil algumas vezes, sendo a primeira delas em 1992, Ă  frente do Black Sabbath, na turnĂȘ de Dehumanizer - pena que eu nĂŁo tinha idade nem autorização pra ir neste show! 

Depois ele ainda viria pela carreira solo em 1995, 1997 e em 2000, acompanhando o Deep Purple. Ou seja, era a quinta vez que Dio se apresentava no Brasil e a primeira vez que eu, finalmente, poderia vĂȘ-lo! Ele vinha acompanhado do colega de Rainbow, o baixista Jimmy Bain e do baterista Simon Wright, ex-AC/DCDesse show tenho boas lembranças, especialmente da segunda metade, quando eles emendaram Holy Diver com Heaven and Hell e eu (como tantos outros ali) fiquei ensandecida batendo cabeça. Depois lembro que ele tocou duas clĂĄssicas da era RainbowMan on the Silver Mountain e Long Live Rock 'n' Roll. Pra fechar, mais uma do Sabbath, Neon Knights.


Dio e Jimmy Bain no ATL Hall em 2001

A primeira impressĂŁo foi tĂŁo boa que eu veria ainda as duas prĂłximas apariçÔes de Dio em terras tupiniquins. E essas duas seguintes seriam ainda melhores que a primeira. Como disse o jornalista Marcos Bragatto, Dio era o rei da voz, no topo de seus 62 anos. 

Naquele 27 de agosto de 2004, veríamos um setlist repleto de clåssicos, e uma presença de palco ainda mais marcante do baixinho e sua trupe, agora acompanhada do veterano baixista Rudy Sarzo, que tocou com Quiet Riot e Ozzy Osbourne

Logo no inĂ­cio do show eles tocaram Gates of Babylon, uma das minhas preferidas do Rainbow, pra seguir com a jĂĄ clĂĄssica de Dio, Don't talk to Strangers e The Sign of the Southern Cross, do Black Sabbath

Depois da inĂ©dita e pesada The Eyes, Ășnica do ĂĄlbum The Master of The Moon, trabalho pelo qual ele fazia aquela tour, Dio ainda emendaria mais trĂȘs clĂĄssicos do Rainbow: StargazerLong Live Rock 'n' Roll e Man on the Silver Mountain, e dois do Black Sabbath: Heaven and Hell e The Mob Rules, sequĂȘncia de tirar o fĂŽlego! Aquele show contou tambĂ©m com as clĂĄssicas Holy Diver e Rainbow in the Dark, que eu via pela primeira vez ao vivo.

Dio e banda em 2004 no Rio de Janeiro

E se Dio podia ser considerado o rei da voz, ele seria de fato como o vinho, pois quanto mais o baixinho envelhecia, melhor ele cantava. Sua sĂ©tima apresentação em solo brasileiro, e a terceira e Ășltima vez que eu teria o prazer de vĂȘ-lo cantar ao vivo, na semana em que completou 64 anos, foi um espetĂĄculo que poucos vocalistas na histĂłria poderiam apresentar. 

A data era 14 de julho de 2006, uma sexta-feira pĂłs Dia Mundial do Rock pra comemorar em grande estilo. A promessa de tocar Holy Diver na Ă­ntegra, como ele vinha fazendo na tour pela Europa, nĂŁo se concretizou no Rio. Mesmo assim, o escasso pĂșblico carioca (uma pena ver a casa tĂŁo vazia, mas ao mesmo tempo Ăłtimo para ficar bem perto do palco e ver Dio a poucos metros de distĂąncia) presenciou um show recheado de clĂĄssicos e excelentes performances de toda a banda, no show intitulado An Evening with Dio.

Dio no Rio em 2006, foto por Rodrigo Scelza
Abrindo com Children of the Sea, do Sabbath, Dio tinha o pĂșblico nas mĂŁos jĂĄ nos primeiros instantes de palco e manteve a majestade emendando nas maravilhosas I Speed at Night, One Night in the City, Stand Up and Shout, Holy Diver e Gypsy

Depois de solos de bateria, guitarra e teclados, pra dar um descanso para Dio, que visivelmente se emocionava com a reação calorosa do pĂșblico, eles tocariam duas mĂșsicas pouco esperadas, mas muito bem recebidas: I, do Black Sabbath, e All The Fools Sailed Awaydo Dream Evil, de 1987. 

Parecia que acabaria por ali, mas nada disso. Dio retornou ao palco sob muitos aplausos e gritos da galera, pra despejar uma enxurrada de hits: Man on the Silver Mountain, Catch the Rainbow, Long Live Rock 'n' Roll, Heaven and Hell, We Rock,  The Last in Line e, fechando com Sabbath como sempre, dessa vez com The Mob Rules. SaĂ­mos todos extasiados, do mesmo ATL Hall, que agora se chamava Claro Hall, de alma lavada e o coração aquecido no ameno inverno carioca.

Dio ainda voltaria ao Brasil mais uma vez em 2009, Ă  frente do Heaven & Hell, exatamente um ano antes de sua morte, que ocorreu em maio de 2010, por conta de um cĂąncer de estĂŽmago. Essa Ășltima visita do baixinho eu nĂŁo pude conferir, infelizmente, pois estava jĂĄ morando em Porto Alegre e os shows aconteceram apenas em Belo Horizonte, Rio, SĂŁo Paulo e BrasĂ­lia

Dio foi, por um longo perĂ­odo, o artista que eu mais tinha visto ao vivo, nessa dose tripla no Rio de Janeiro, mas perdeu esse posto empatando com Iron Maiden, Anathema e Tarja, todos esses que vi pela terceira vez em 2016, e ficando atrĂĄs do Nightwish, que vi pela quarta vez, tambĂ©m em 2016. 

A notĂ­cia da morte de Dio abalou a todos os fĂŁs do estilo, com certeza. Mas a boa notĂ­cia Ă© que no prĂłximo ano deverĂĄ ser lançado um documentĂĄrio oficial sobre a vida do vocalista, notĂ­cia essa confirmada pela viĂșva de Dio, que declarou jĂĄ estarem sendo feitas as gravaçÔes e levantamento de materiais que ela teria encontrado entre as coisas do marido. Resta-nos esperar para matar as saudades!

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